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“A uberização do trabalho é um desdobramento da Revolução Industrial”

Texto | Mariana Assis Imagem | Renato Maretti / Julia Thompsonei

Uma das vozes mais representativas do Movimento dos Entregadores Antifascistas, o paulistano Paulo Lima, 31, conhecido como Galo, já havia trabalhado por três anos como motoboy até começar a prestar serviço para aplicativos de entrega de comida. Sem nenhuma garantia trabalhista, Galo atravessa a capital paulista diariamente e reivindica o mínimo; sua principal luta é por comida, aquela que carrega mas nem sempre pode comer. 

Galo explica que o movimento começou dois dias antes do ato antirracista, que aconteceu no começo de junho, no Largo da Batata, zona sul de São Paulo. Ali, dezenas de entregadores reuniram-se e compartilharam suas indignações sobre as condições de trabalho. Desde então o grupo foi se expandindo e se organizando cada vez mais. 

Quando questionado sobre como a consciência política foi sendo constituída, Galo atribui diretamente ao movimento do hip hop. “Foi lá que aprendi tudo. Os companheiros começaram a me dar livros, porque diziam que eu aprenderia  a fazer rap lendo livros. Foi aí que li Malcolm X, Veias Abertas da América Latina, Crime e Castigo, Admirável Mundo Novo, 1984”, conta. 

Na entrevista ao Desabafo Social por telefone, Galo repetiu várias vezes da importância de  ter “segurança de viver a vida”, direito que segundo ele vem sendo negado aos entregadores. Confira os principais momentos da entrevista. 

Quais são as principais diferenças entre trabalhar como entregador com uma empresa e por aplicativo?

Você tem uma garantia no final do mês, assim como férias, FGTS, seguro desemprego, com todos os direitos garantidos que vão dar segurança para viver. Quando você trabalha em um aplicativo não sabe se amanhã vai ser bloqueado, se vai se acidentar e ter que ficar parado, se amanhã vai ter demanda ou não. Então você acaba não construindo sua vida de forma segura. É pela segurança de viver a vida, de poder, amanhã, juntar com a sua esposa e parcelar um apartamento. Você não pode ir atrás de comprar a sua casa e viver tranquilo, porque não sabe se amanhã vai ter trabalho. 

Quais são as principais reivindicações dos entregadores antifascistas?

É fazer os aplicativos garantirem o café da manhã, almoço, janta, lanche da tarde e da madrugada para quem trabalha nesses períodos. A partir disso, reconhecer o vínculo empregatício e garantir a segurança sanitária durante a pandemia.

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O que já aconteceu desde o início do movimento? Quem apoia a luta?

A gente é muito maior do que éramos naquele tempo, estamos em mais estados, muito mais articulados com outros movimentos, e outras ferramentas de luta que foram aparecendo. Hoje temos pessoas da tecnologia, que ajudam a gente, jurídico, pessoas da contabilidade.

Na sua grande maioria, o próprio consumidor dos aplicativos que acha um absurdo ter que receber comida na mão de um trabalhador que nem comida na barriga tem. Então essas pessoas se solidarizaram à causa, entendem que precisam desse tipo de serviço, porém não querem explorar ninguém, fazer essa maldade com o trabalhador. Gostariam que o serviço fosse oferecido, mas que fosse fornecido de uma maneira justa, para os dois lados. 

O que é a uberização do trabalho?

A uberização do trabalho é um desdobramento da Revolução Industrial, na qual surgiu uma nova tecnologia para auxiliar o trabalhador a produzir mais. Só que a Revolução Industrial acabou suprimindo o emprego das pessoas e, no lugar onde ficavam dez pessoas, passou a ter uma máquina. Então a tecnologia que era para ajudar naquela época a vida do trabalhador, acabou suprimindo o emprego do trabalhador, e a uberização é um desdobramento disso. Então se a Revolução suprimiu os empregos, a uberização vai suprimir os direitos. O lance da uberização é botar todo mundo para trabalhar e não ter responsabilidade para com esses trabalhadores. 

E esses tipos de empregos têm crescido bastante nos últimos anos?

Da mesma forma como ocorreu na Revolução Industrial, que acabou expandindo para vários setores, a ideia da uberização é expandir para todos os setores também. O que puder transformar  em aplicativo e não pagar mais direitos vai fazer,  e não é bem o âmbito da questão tecnológica. A gente está vendo aí a reforma trabalhista e da previdência, todos são caminhos para tirar os direitos dos trabalhadores. 

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