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Coletivo Mulheres da Quebrada fortalece o protagonismo feminino em belo horizonte

Crédito: Foto divulgação

Um grupo de quatro amigas criou o Mulheres da Quebrada, coletiva que atua na favela do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Desde 2019 o quarteto vem criando uma “rede de cuidado e afeto”, cujo objetivo é fortalecer o protagonismo feminino e criar ferramentas de proteção à mulher através da arte. 

As medidas de restrição social impostas pelo novo coronavírus, no entanto, mudaram o planejamento das atividades previstas para este ano. Os encontros presenciais precisaram se tornar virtuais, e os desafios de um dos principais problemas enfrentados, a violência contra a mulher, sofreu aumento significativo. 

Segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,  o Disque 180 teve um aumento de 9% de denúncias entre os dias 17 e 15 de março em comparação aos 15 primeiros dias do mês. No ano passado, o canal recebeu 1,3 milhão de chamadas pedindo ajuda.

Por telefone, Simone Silva, uma das coordenadoras das Mulheres da Quebrada, conversou com o Desabafo Social sobre o trabalho desempenhado pela coletiva e os desafios que a pandemia estabeleceu. 

Como surgiu o projeto?

 Mulheres da Quebrada, inclusive agora nós estamos nos corrigindo porque falávamos o projeto, mas somos mulheres então falamos que somos a coletiva. Nós somos quatro mulheres: a Sheylla Bacelar, a Lídia Vieira, Sandra Sawilza e eu, Simone Silva. Só a Lídia que não é, mas todas as outras nasceram no Aglomerado da Serra.

A gente cresceu vendo as histórias das mulheres que nos criaram, e fomos observando todos aqueles problemas que a comunidade já vive, mas principalmente a invisibilidade da função da mulher enquanto dona e provedora do lar. Além disso, tem muitas questões de violência que as mulheres sofrem; nós temos as experiências das nossas mães e parentes que viveram isso, o que foi nos incomodando. 

Foi a partir das situações de violência, de violações que as mulheres do Aglomerado vivem, que a Sheylla  fez essa chamada para gente. Pensamos não só em um retorno cultural, mas um retorno que trouxesse um cuidado, visibilidade para a mulher e o afeto. Percebíamos uma falta muito grande de afeto entre as mulheres, entre si e entre a família. E pensamos em construir a partir daí essa rede de amor e cuidado. Partíamos muito do desejo de fortalecer vínculos e a valorização de ser mulher naquele território.

E quando o projeto surgiu?

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Nós iniciamos em 2018. Chamamos mulheres para um bate papo e falamos um pouco sobre isso, e nesse encontro a gente entendeu as demandas daquele grupo em específico, que foram mais de 30 mulheres. Não demos continuidade em 2018, ficamos mais no planejamento das atividades, organizar a coletiva e ver o que a gente faria. Em 2019 fomos aprovadas no Descentra BH, lei municipal de cultura, e começamos a executar o projeto. Trazemos o viés cultural e o sociocultural, com as atividades de linguagem corporal, num processo de experimentações sensoriais, estéticas, literárias e de diálogo.   

Quais foram os principais temas levantados pelas mulheres nessa primeira reunião?

Nós falamos sobre violência doméstica, a invisibilidade da mulher na sociedade, trabalho, subemprego, a questão da mulher negra na sociedade, os sentimentos e as questões psicológicas que as afetam. O retorno das mulheres foi o desejo de construir essa coletiva, da gente manter um encontro periódico para que a gente pudesse discutir entre nós, além de criar uma rede de cuidado, para que a gente pudesse nos ajudar ali dentro. A partir desse encontro nós criamos um grupo no Whatsapp, que já entrou com essas 30 mulheres.  

Hoje já temos 109 mulheres, e chamamos o grupo de rede de afeto e cuidado. Então, por exemplo, ali dentro temos psicólogas, médicas, advogadas, a colaboração do projeto Mediação de Conflitos [programa da Secretaria de Estado e Defesa Civil de Minas Gerais]. Se alguma mulher está precisando de berço, aí joga no grupo e sempre tem alguém para mobilizar o que está sendo sendo necessário. Nós repetimos sempre que não precisamos ser amigas, precisamos ser parceiras. Então tem os casos de violência doméstica e, mesmo nesse período de pandemia, nós conseguimos nos ajudar, seja com um encaminhamento, uma palavra, uma ligação, ou simplesmente a escuta.

Como funciona a dinâmica dos encontros? E como foram fazendo parcerias?

Em 2019, nós tivemos vários encontros semanais, e em cada um deles tinha uma temática diferente. Sempre trazíamos um artista do Aglomerado da Serra para dar uma aula, e no final dos encontros tinha uma roda de conversa, para cada mulher falar o que quisesse. Nós fomos percebendo que, mesmo propondo um temática para o encontro, as mulheres tinham relatos muito pessoais. E pensando na valorização da mulher, nós também trouxemos aquelas que pudessem ajudar na beleza, como as cabeleireiras. Além do boca a boca e das nossas redes sociais, essas profissionais foram chegando de forma natural. 

Hoje nós temos três parceiras da Gotas de Cuidado, que inclusive fazem parte do nosso grupo de gestão da coletiva, que são psicólogas e estão com a gente desde o início. Nós fomos percebendo o desejo delas de somar conosco, e hoje dizemos que o nosso trabalho e o delas é um só. Nós não temos espaço físico, então a primeira coisa que nós procuramos foi um CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) da comunidade para fazer as atividades, e o Cras nos acolheu. 

Com o pessoal da Mediação de Conflitos nós fomos até lá, apresentamos a coletiva, e a equipe técnica foi em um encontro, e não saiu mais. As mulheres, especificamente as que estão conosco, estão muito nesse lugar de provedoras, de cuidadoras, quando ela chega nos nossos encontros entende que também precisa de cuidados. Elas estão ali não porque são egoístas e estão deixando o marido, mas porque elas estão tendo o autocuidado para que consigam parar de sobreviver e voltem a viver. 

Mulheres da Quebrada

Como estão as atividades durante a pandemia?

Nós paramos com os encontros presenciais. Então iniciamos os web encontros, além do grupo do whatsapp, e propomos algumas temáticas. Na última semana trouxemos uma coletiva, a Naya, de mulheres para falar sobre o corpo da mulher e o autocuidado. Além disso, nós começamos a pensar o afeto a partir de vídeos. Então pedimos para várias pessoas, artistas e as próprias mulheres que estão no grupo, de nos enviar vídeos que fossem informativos sobre a Covid-19, violência doméstica, ou que enviassem uma palavra de motivação e de carinho. Nós publicamos no grupo do whatsapp e também nas nossas redes sociais. 

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Criamos uma campanha de apoio e contamos com outras mulheres, principalmente as mães, empregadas domésticas, diaristas, manicures, entre outras, que já não tinham salários adequados à necessidade familiar em situação de necessidades básicas. 

Além das ações de arrecadação de verba para compra de alimentos e materiais de higiene, a coletiva está oferecendo apoio psicológico e auxílio na realização de cadastros em programas de governo. 

Como vocês tem percebido a violência contra mulher nesse cenário?

Temos a plena consciência que as vítimas são “obrigadas” a permanecerem por um tempo maior em companhia do agressor, assim se torna mais vulnerável.  Nas vilas e favelas as casas são muito próximas mas, infelizmente, essa proximidade não impede que os casos ocorram. Pensando nisso e a partir das abordagens de várias mulheres da região com relatos de situações opressoras e ou violências sofridas, o que mais chamou a atenção foi à real falta de cuidado que temos com o próximo, e criou assim o desejo de ser diferença nessas vidas. Daí o sentido e a necessidade de falar sobre e agir nesse cuidado.

Hoje temos a denúncia silenciosa, a pessoa não deixa de ajudar, mas ninguém precisa saber que ela está ajudando. A gente percebe que até hoje muitas mulheres ainda têm medo de denunciar, por terem medo de acontecer algo com os seus filhos, por isso somos parceiras. Nós estamos incentivando essa postura de que cada uma de nós precisa agir em prol da outra. 

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