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60% das mulheres negras iniciam seus negócios por necessidade

Texto | Mariana Assis Imagem | Pexels

Monique Ferreira, 30, começou a empreender no ano passado. A moradora de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, decidiu abrir uma doceria quando começou a enfrentar dificuldades financeiras e precisava de uma renda extra. Daí nasceu a Doces de Mãe, especializada em quitutes festivos. 

Assim como Monique, 60% das mulheres negras iniciam seus negócios por necessidade. É o que conclui a pesquisa “Saúde Financeira de Mulheres Negras em Tempos de covid-19”, realizada pelo Instituto Identidades do Brasil, o ID-BR. 

O estudo é o segundo feito desde o início da pandemia com o intuito de mapear os impactos da pandemia na vida de mulheres negras do Brasil. Nesta fase, o objetivo foi levantar informações sobre as consequências das medidas de isolamento social na vida econômica das empreendedoras negras. 

O recorte se dá tendo-se em vista que, a partir do somatório de negras e pardas pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras representam 28% da população brasileira o que é, na prática, 60 milhões de pessoas. 

Assim que as restrições sociais foram estabelecidas, Monique conta que as encomendas caíram vertiginosamente. “Teve queda por conta do cancelamento de festas e eventos. Mas logo depois me reinventei com delivery e aí tivemos um aumento”, explica ela que gerencia o trabalho com o seu esposo, Rafael Falcão. “Sou só eu na produção e o meu marido, nas entregas”. 

De acordo com a pesquisa, 11% das mulheres empreendem na área gastronômica, como é o caso de Monique. Nos últimos meses, ela notou que a compra de bolos tem se tornado esporádica, em contrapartida, os doces são os queridinhos do público. “Pedem muito doces, bolos no pote e o nosso kit de sobrevivência, que reúne uma fatia de bolo, 4 brigadeiros e 5 salgadinhos sortidos”, destaca.

Aproveitou o aumento na procura para também realizar um sonho antigo. Monique lançou em junho as caixarraias, kits juninos que visaram não só diminuir a saudade das comidas da tradicional festa junina, mas também de ajudar o próximo. Sensibilizada pelo aumento da população de rua, a confeiteira destinou porcentagens das vendas para compra de alimento às pessoas nessa situação. 

Se por um lado o aumento das encomendas traz retorno financeiro à altura, a rotina de Monique é, por vezes, exaustiva. Mãe de três crianças, entre 11 e 1 ano  de idade, a jornada, ela frisa, é tripla. “O trabalho está sendo triplicado e isso me desestabiliza algumas vezes. Precisei parar por uma semana para conseguir me estabelecer e voltar a produzir”, desabafa.

Quando bate o cansaço, o medo e a desesperança

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Os efeitos da pandemia incidem diretamente na saúde mental, como apontam os resultados do estudo. 28% das mulheres dizem estar abaladas por questões financeiras e 26% estão com a saúde mental abalada por outros motivos. Já 36% delas informaram que têm sofrido de crises de ansiedade e 20% apontam oscilações de humor.

A angústia é compartilhada por Ariadne Oliveira, 38, cujo carro chefe é a produção de bolsas, turbantes, máscaras e acessórios feitos a partir de tecidos africanos. “Apesar de eu estar conseguindo manter o meu negócio, o medo e a apreensão de não conseguir suprir as minhas necessidades e as da minha família torna esse período ainda mais difícil”, diz Ariadne que é também mãe.  

Crédito: arquivo pessoal. Ariadne

Antes da pandemia, Ariadne vendia os seus produtos em feiras, faculdades e eventos de Fortaleza, onde mora. As vendas, portanto, despencaram uma vez que não era mais possível frequentar esses locais. “Meu negócio foi bastante afetado, mas as redes sociais facilitam as vendas, o que me ajudou muito porque trabalho com várias coisas; se não estava vendendo bolsas, partir para as máscaras e assim por diante. E vou superando um pouco”.  

Experiente, Ariadne começou a empreender há quatro anos depois de trabalhar em fábricas de confecções em sua terra natal. O contato diário com o universo do corte e da costura despertaram-na o desejo de ter o seu próprio negócio. Atualmente, ela é a responsável por todas as etapas de produção dos seus artigos. 

Os dados da pesquisa indicam, por fim, que os relatos das entrevistadas são ilustrativos para diagnosticar que “o cenário é de incerteza e insegurança. Muitas afirmaram estar desacreditadas da possibilidade de alguma melhora no cenário econômico e da sua situação, em vista da situação de pandemia, após quatro meses do início das medidas de isolamento.”

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