Mayse Cosmo, do Negrê
O incentivo à leitura na infância é uma prática que proporciona vários benefícios para as crianças. Estimula a imaginação, a criatividade, a memória, a concentração. Auxilia no desenvolvimento da empatia, da inteligência emocional e também do vocabulário, como apontou um estudo da Universidade Estadual de Ohio, em que crianças, cujos pais lêem com elas, chegam no jardim de infância tendo ouvido cerca de 1,4 milhões de palavras a mais do que as que não têm esse hábito.
Nessa fase da vida, a leitura – assim como outras formas de entretenimento (cinema, TV etc) – também influencia na construção da identidade e da autoestima. O livro pode ser um canal para que a criança se aproprie de valores nesse processo. Por essa razão, a literatura que possui personagens negros valoriza e enriquece a construção da autoimagem de crianças negras.
O impacto positivo de livros e demais obras com representatividade, seja ela preta, indígena, LGBTQ+, entre outras, vai além do grupo ali representado, pois também atua na formação das demais crianças, tornando-as sujeitos conscientes da diversidade étnico-racial, social e cultural presente na sociedade.
Para ajudar e incentivar essa tarefa, trouxemos uma lista com cinco livros nacionais com protagonistas negros, que não só trazem a representatividade no texto e nas imagens, como também abordam diversos temas importantes para a formação dos pequenos, como masculinidades, autoestima, emoções e ancestralidade.
Cinco livros infantis escritos por autores brasileiros:
O mundo no black power de Tayó (Kiusam de Oliveira, 2013) – Tayó é uma menina negra que tem orgulho do cabelo crespo com penteado black power, enfeitando-o das mais diversas formas. A autora apresenta uma personagem cheia de autoestima, capaz de enfrentar as agressões dos colegas de classe, que dizem que seu cabelo é “ruim”. Mas como pode ser ruim um cabelo “fofo, lindo e cheiroso”?. “Vocês estão com dor de cotovelo porque não podem carregar o mundo nos cabelos”, responde a garota para os colegas. Com essa narrativa, a autora transforma o enorme cabelo crespo de Tayó numa metáfora para a riqueza cultural de um povo e para a riqueza da imaginação de uma menina sadia.
O Menino Nito (Sonia Rosa, 2006) – Nito abria um berreiro por tudo e ninguém aguentava mais tanta choradeira. Um dia seu pai o chamou num canto e veio com aquele discurso: “Você é um rapazinho, já está na hora de parar de chorar à toa. E tem mais: homem que é homem não chora.” Essas palavras martelaram na cabeça do Nito. Discutindo questões da masculinidade, o livro conta a história do menino Nito, e sua dúvida se homem pode ou não chorar.
Amoras (Emicida, 2018) – Na música Amoras, Emicida canta: “Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão/ Papai que bom, porque eu sou pretinha também”. E é a partir desse rap que um dos artistas brasileiros mais influentes da atualidade cria seu primeiro livro infantil e mostra, através de seu texto e das ilustrações de Aldo Fabrini, a importância de nos reconhecermos no mundo e nos orgulharmos de quem somos – desde criança e para sempre.
O Pequeno Príncipe Preto (Rodrigo França, 2020) – Em um minúsculo planeta, vive o Pequeno Príncipe Preto. Além dele, existe apenas uma árvore Baobá, sua única companheira. Quando chegam as ventanias, o menino viaja por diferentes planetas, espalhando o amor e a empatia. O texto é originalmente uma peça infantil que já rodou o país inteiro. Agora, Rodrigo França traz essa delicada história no formato de conto, presenteando o jovem leitor com uma narrativa que fala da importância de valorizarmos quem somos e de onde viemos – além de nos mostrar a força de termos laços de carinho e afeto. Afinal, como diz o Pequeno Príncipe Preto, juntos e juntas todos ganhamos.
Sinto o que sinto: e a incrível história de Asta e Jaser (Lázaro Ramos e Mundo Bita, 2019) – Mesmo para os adultos, lidar com os sentimentos nem sempre é fácil. Isso é o que Dan, personagem principal dessa história, percebe ao longo de seu dia, enfrentando diferentes situações que o fazem ter de encarar uma mistura bastante diversa de sentimentos. E à noite, já em casa e quase pronto para ir dormir, Dan ouve uma história muito especial de seu avô sobre seus ancestrais. O livro de estreia de Lázaro Ramos na Carochinha Editora tem como objetivo ajudar as crianças a entender que é normal sentir raiva, alegria, orgulho, tudo ao mesmo tempo. Aprender a identificar e a nomear tais sentimentos é muito importante para o desenvolvimento emocional do ser humano. Além disso, a obra mostra a importância de se valorizar a nossa ancestralidade.
Referências
SOUSA, Gabriela Tavares. A Representatividade Negra na Literatura Infantil: dentro da sala de aula. In: CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES NEGROS, 10., 2018, Uberlândia. Disponível em: https://www.copene2018.eventos.dype.com.br/resources/anais/8/1538188330_ARQUIVO_XCOPENEARepresentatividadeNegranaLiteraturaInfantildentrodasaladeaula.pdf. Acesso em: 25 de setembro 2020.
Foto de capa: Nappy.