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Sociedades

O desafio é também ter fé, apesar de tudo

Texto | Mariana Assis

Hoje faz um pouco mais de um ano da confirmação do primeiro caso de infecção por covid-19 no Brasil e a situação é cada vez mais desesperadora. Na contramão de muitos países, o Brasil vem fazendo uma vacinação muito aquém do que poderia, principalmente tendo-se em vista que se trata de uma nação historicamente posicionada como uma das melhores nesse quesito. 

O clima é de desolação e confusão. Não podemos nos esquecer dos diversos ministros da saúde que já tivemos desde o início da pandemia. A economia do país vai de mal a pior, e a pobreza aumentou significativamente depois do fim do auxílio emergencial, como aponta uma reportagem do jornal O Globo. Já segundo a Comissão Economia para a América Latina e Caribe (Cepal), projeta que a pobreza extrema na América Latina será a mais alta em 20 anos por conta do coronavírus. Um em cada três latino americano vive em situação de pobreza e 80% são vulneráveis, de acordo com a instituição. 

É lastimável tudo isso, sobretudo ao se ver que países que restringiram as atividades da sua cidade, investiram em um bom sistema de vacinação, têm conseguido trazer consequência positivas à sociedade e trazer um pouco de otimismo em meio à maior crise sanitária em muitos séculos que o mundo já vivenciou. Mas os governantes brasileiros têm apostado no negacionismo, minimizando a pandemia, não dando importância suficiente à situação.  

Os posicionamentos do presidente da república, Jair Bolsonaro (sem partido), são igualmente lamentáveis e repugnantes. Ontem (04), Bolsonaro referiu-se à pandemia como: “Chega de mimimi, vão chorar até quando?”, disse na semana em que o país bateu recordes de mortes em 24 horas, chegando próximo a 2 mil óbitos. 

É a cada dia mais deprimente ser brasileira, estar assistindo a esta crise humanitária se agravar e ver poucos esforços para que seja contornada. É como se as nossas vidas não valessem nada. Não parece haver preocupação, por quem orquestra o caos, de ser julgado, tampouco responsabilizado. É como se fosse um tanto faz. Não importa.

Todo esse estado tenebroso das coisas é muito desanimador, especialmente do meu lugar de mulher, negra, universitária, que almeja um futuro tranquilo para os meus, os seus, os nossos. Tem sido desesperador ver tantas pessoas precisarem do básico: oxigênio, um prato de comida, um gás para cozinhar…Era para já termos superado essas condições desumanizadoras, mas a impressão que se tem é que tudo se amplifica, capilariza e destrói.

Gostaria de ser otimista e pensar que tudo ficará bem, mas seria insano da minha parte apostar nisso. É difícil desejar um futuro melhor quando quase sucumbimos ao presente, que por vezes sequestra todas as esperanças. Mas, ainda sim, nossa principal resistência é a fé, e assim procuro me alimentar cotidianamente. Como diz Gil: “Andar com fé eu vou, que não costuma faiá.”

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