Texto: Thais Machado | Foto: Reprodução/TV Globo
Com o início da pandemia em março 2020 as pessoas precisaram passar mais tempo dentro de casa e consequentemente tiveram mais tempo para acessar os diversos meios de comunicação.
A edição 2020 do Big Brother Brasil foi ao ar pouco tempo antes do corona vírus chegar ao país e com certeza protagonizou a tela da TV dos brasileiros que vivenciavam o início do isolamento social.
O BBB é o reality show mais popular da TV brasileira, o programa promove entretenimento entregando aos telespectadores “a casa mais vigiada do Brasil” e por isso a final do BBB 2020 teve uma enorme audiência, superando a do ano de 2010.
Com o sucesso da ultima edição, o diretor do reality ( Jose Bonifácio – Boninho) não pensou duas vezes antes de criar um nova edição ainda “maior e melhor” para 2021, mas será que passar 100 dias observando outras pessoas cofinadas em uma casa é um ato saudável em um contexto pandêmico? O que essa ação pode despertar nos telespectadores?
As duas primeiras semanas do BBB21 foram as mais comentadas no Twitter, o reality ultrapassou assuntos como a covid-19 e Política nos trend topics da rede social, isso tudo por conta das ações inesperadas e desagradáveis de alguns participantes.
O Ator e slammer Lucas Penteado protagonizou maior parte da comoção do público após ser alvo de críticas e pressão psicológica dos brothers dentro da casa, Lucas não suportou o distanciamento das pessoas e acabou abandonando o reality.
Com tudo que vinha acontecendo dentro do BBB, o tribunal virtual se dividiu em opiniões e surgiram discussões serias sobre o assunto, entre elas o debate sobre o cuidado com a saúde mental dos participantes, mas e a saúde mental dos telespectadores? Será que está tudo bem com quem consome o conteúdo do Big Brother?
Existem várias pesquisas alertando para o cuidado com a saúde mental durante pandemia e os efeitos bruscos que o isolamento vem causando nas pessoas, a mudança na rotina pode potencializar e crescer o risco de doenças como depressão e ansiedade.
Agora imagina expectar situações que despertam sentimentos que não podemos controlar, como angústia, revolta ou até mesmo ódio. São esses os sentimentos comuns a muitos telespectadores nas ultimas semanas.
Sem dúvida o elenco do Big Brother Brasil 2021 está nos ensinando que na internet não existem limites ou filtros quando se trata de defender aquilo que acredita.
“A internet não perdoa” experienciar momentos tensos do sofá de casa causando desconforto ao público, isso ficou explícito quando a galera que não curtiu algumas ações dos confinados da casa do BBB usaram as redes sociais para expressar suas emoções.
Mas existe um limite? Onde termina a opinião e começa a ofensa?
Desde que surgiu a Cultura do Cancelamento ficou mais fácil propagar linchamentos virtuais, humilhar, desprezar e ameaçar, porém não há dúvidas de que essas não são formas de alcançar justiça.
Em entrevista ao Desabafo Social, a psicóloga Natalie Rose falou um pouco sobre como pessoas reagem quando sentem ódio:
“Segundo Robert Sternberg, psicólogo que escreveu o livro “Psychology of Hate”, de nenhuma maneira o ódio se apresenta num meio de fraqueza ou insegurança, mas surge em quem tem força e de alguma maneira sente-se ameaçada (de maneira real ou fantasiosa), estando disposta a qualquer coisa para se vingar.
A partir de 3 fatores conseguimos encontrar sua apresentação: intimidade negada, paixão, empenho. Com certeza, não é suficiente ter raiva para odiar, sendo necessário uma certa forma de olhar para o outro. Para poder odiar é preciso ver a outra pessoa como diferente, maléfica ou imoral.
Por uma outra ótica, existe a concepção da psicanalista Miriam Chnaiderman, de que na verdade não é a incapacidade de suportar a diferença, mas a de ver o diferente tornar-se o mesmo. Ou seja, ver o outro como muito parecido e a partir disso, sentir-se ameaçada em sua identidade. Sendo a diferença vista como a proteção dessa identidade, no momento do medo da perda, é vista a necessidade para definir aquilo que de certo modo diminua “os outros”.
Surge então uma distinção referente a “nós” e “os outros”, sendo possível perceber a sua aparição quando quem fez a diferenciação se percebe numa posição que não lhe garante satisfação daquilo que necessita. Ao chegar num estado precário, “os outros” são vistos psicologicamente como não inteligentes, frágeis, sem sentido, preguiçosas, e a partir da ideia de moralidade, enquanto pessoas más, rebeldes, egoístas, sendo vistas a partir de um lugar de perigo, ou quebra da segurança, vista como “nossa”. Afirmou á psicóloga.
A sensação de liberdade e segurança provocada por uma rede social pode nos levar a caminhos desconhecidos e cruéis. Se estivessimos sendo vigiados 24h por dia, todas as nossas ações seriam aceitas?