Familiares das vítimas levaram flores e fizeram orações na viela onde os jovens morreram. Caso ainda não foi encerrado e 31 PMs que participaram da ação em 2019 permanecem afastados das ruas durante a investigação.
Por Graziela Azevedo, TV GLOBO E G1
Moradores da comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul da capital, fizeram nesta terça-feira (1) uma homenagem aos 9 jovens mortos durante uma ação da Polícia Militar em um baile funk na favela, ocorrida há exatamente um ano, em dezembro de 2019. Doze pessoas que também se feriram na ação daquela noite sobreviveram.
O ato em Paraisópolis ocorreu na viela onde aconteceu a ação da PM durante o baile funk da DZ7. Cruzes com fotos das vítimas foram colocadas na rua e houve uma homenagem feita por amigos e familiares dos mortos.
Durante a homenagem, parentes colocaram flores vermelhas, amarelas e brancas na viela e realizaram orações.
Ao todo, 31 policiais militares continuam afastados e são investigados. O caso ainda não foi encerrado.
A Defensoria Pública do estado pediu que o governo do estado pague uma indenização aos familiares dos mortos pelos atos cometidos. O governo do estado diz que, qualquer decisão a respeito, ainda depende da conclusão das investigações. Há um processo na Justiça Militar e outro na justiça comum sobre o caso.
Na avaliação da Defensoria, o governo paulista tem de ser responsabilizado pelas mortes. Segundo os defensores, as pessoas morreram somente por causa da atuação violenta da Polícia Militar para dispersar os frequentadores da festa.
“Sabemos que nenhum dinheiro trará as vítimas de volta. Mas esse reconhecimento tem efeito simbólico muito importante. Seria o Estado reconhecendo que, por ação de seus agentes de segurança, aquelas pessoas morreram”, disse à reportagem a defensora pública Fernanda Penteado Balera, coordenadora auxiliar do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos.
Os defensores ainda afirmam que a Procuradoria Geral do Estado não precisa esperar a conclusão do inquérito policial para indenizar as famílias.
A tragédia
Testemunhas e sobreviventes contaram ter visto policiais militares lançarem bombas de gás e de efeito moral contra as pessoas que estavam no baile e fugiram para vielas do bairro. Ao menos nove PMs teriam chegado primeiro ao local. Depois vieram mais outros policiais.
De acordo com a Defensoria, os agentes da PM as encurralaram em um beco sem saída, conhecido como viela do Louro. Depois passaram a agredir os frequentadores, provocando tumulto. Vídeos gravados por moradores mostram agentes batendo nas vítimas que saíam da viela durante a dispersão.
Muitas pessoas não conseguiram sair e morreram sufocadas, prensadas uma a outra. Laudo pericial confirmou que oito vítimas morreram asfixiadas e outra, Mateus, morreu por traumatismo.
Exames apontaram ainda que as vítimas chegaram mortas aos hospitais, algumas com lesões de quem tinham sido pisoteadas ao tentarem escapar do beco.
O que dizem os PMs
Os PMs que participaram da ação negam ter encurralado os frequentadores do baile funk na viela. Alegam que eles morreram pisoteados entre si depois que dois criminosos em uma moto, que eram perseguidos pelos agentes, se infiltraram na festa e atiraram na direção dos policiais.
Um ano depois, os suspeitos procurados pelos agentes nunca foram identificados ou presos.
A versão dos PMs, do início da perseguição policial aos suspeitos, está presente em vídeo gravado por câmeras de segurança e também no laudo virtual. Ele foi finalizado na semana passada e vai substituir a reconstituição presencial.
Entre 5 mil a 8 mil pessoas participavam do Baile da DZ7 naquela madrugada na comunidade, A festa ocorria perto de três ruas: Rodolf Lutze, Iratinga e Ernest Renan.
De acordo com os PMs, houve tumulto e a população os agrediu com paus, pedras e garrafadas. Eles então decidiram usar balas de borracha, bombas de gás e de efeito moral e cassetetes para dispersar a multidão que participava do baile.
Procurado pelo G1, o advogado Fernando Capano, que defende 20 dos 31 policiais que participaram da ocorrência em Paraisópolis, voltou a alegar que seus clientes são inocentes e agiram de acordo com a lei.
“Ainda acreditamos que os verdadeiros responsáveis pela tragédia de Paraisópolis poderão ser responsabilizados, quer seja do ponto de vista criminal, quer seja pela total falta de cumprimento das posturas municipais para que um evento daquele tamanho ocorresse”, disse Fernando, sugerindo que outras pessoas deveriam responder pelas mortes.
As vítimas
Embora tenha pedido indenização para as famílias de oito jovens mortos, a Defensoria Pública acompanha diretamente os parentes de quatro dessas vítimas.
Os familiares dos outros quatro mortos contam o assessoramento jurídico da Rede Liberdade, coletivo que convida advogados voluntários para atuarem gratuitamente em casos de violação de direitos humanos.
“Isso tem efeito pedagógico: o Estado reconhecer que seus agentes públicos agiram fora das diretrizes legais e indenizar as famílias como forma de sinalizar para a sociedade que não tolera esse tipo de conduta”, espera Felipe Freitas, assessor de programas da Rede Liberdade.
Nenhum dos mortos morava em Paraisópolis. Como havia menores de 18 anos idade entre os mortos, o Núcleo da Infância e Juventude da Defensoria também acompanha os parentes e participa com eles das reuniões com representantes do governo para tratar das indenizações.
Entre as vítimas há adolescentes de 14 anos e jovens de 23 anos.
Veja abaixo quem são os 9 mortos, como morreram e quem os defende:
- Mateus dos Santos Costa, 23 anos, morreu por traumatismo – família não encontrada pela Defensoria Pública
- Gustavo Xavier,14 anos, morreu por asfixia – Defensoria Pública
- Marcos Paulo Oliveira, 16 anos, morreu por asfixia – Defensoria Pública
- Gabriel Rogério de Moraes, 20 anos, morreu por asfixia – Defensoria Pública
- Eduardo Silva, 21 anos, morreu por asfixia – Defensoria Pública
- Denys Henrique Quirino, 16 anos, morreu por asfixia – Rede Liberdade
- Dennys Guilherme dos Santos, 16 anos, morreu por asfixia – Rede Liberdade
- Luara Victoria de Oliveira, 18 anos, morreu por asfixia – Rede Liberdade
- Bruno Gabriel dos Santos, 22 anos, morreu por asfixia – Rede Liberdade