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Artesãs de comunidades rurais e quilombolas criam coleção de biojoias Imagem: Arquivo Pessoal

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Artesãs de comunidades rurais e quilombolas criam coleção de biojoias

Rayane Moura, Ecoa

Com a intenção de levar empreendedorismo e comercialização a áreas de difícil acesso no sul da Bahia, surgiu o projeto “Arte Solidária Michelin Ouro Verde”, parceria da designer amazonense Maria Oiticica e a fabricante de pneus que dá nome à iniciativa. O programa leva o aprimoramento de técnicas de criação de biojoias às comunidades quilombolas na região de Nilo Peçanha, por meio de vídeo aulas.

A empresa está presente no sul da Bahia há cerca de 20 anos, com o programa Michelin Ouro Verde Bahia, considerada uma das maiores iniciativas de desenvolvimento sustentável da empresa no mundo. Em 2017, Maria Oiticica, que cria biojoias a partir de elementos da natureza há 18 anos, conheceu pessoalmente a reserva Ouro Verde, onde se reconectou emocionalmente com o local em função da história de seu pai, que era seringueiro na Amazônia.

A partir daí, Maria criou a coleção intitulada “Origens”, como um resgate às suas raízes, e iniciou conversa com a Michelin com a intenção de continuar com um projeto maior na região. A parceria foi firmada, com o objetivo de promover o desenvolvimento de um modelo autossustentável que concilie conservação e o uso consciente dos recursos naturais, além da geração de benefícios sociais e renda por meio da captação das comunidades locais.

“Estamos presente no sul da Bahia desde os anos 80. Acreditando no potencial criativo e na força empreendedora feminina da região, lançamos agora o projeto Arte Solidária Michelin Ouro Verde, que se desdobrará virtualmente neste período. Nosso objetivo é que as artesãs se inspirem, criem e possam estar prontas para a retomada da economia em breve”, afirma Glauce Ferman, diretora de Comunicação da Michelin América do Sul.

O projeto foi apresentado às comunidades locais em março e a empresa identificou as interessadas em participar, atendendo a alguns critérios do projeto, como engajamento comunitário e disponibilidade de matéria-prima. O segundo passo foi a instalação de maquinário e aquisição dessa matéria-prima para a produção.

“Arte Solidária Michelin Ouro Verde”, parceria da designer amazonense Maria Oiticica e a fabricante de pneus Imagem: Divulgação

Com isso, as primeiras das sete comunidades a participarem do projeto foram as de Jatimane e Tabocas, em parceria com uma ONG local.”Aprendizado desse processo foi perceber a importância desse trabalho para tantas pessoas. Sempre ouço falar bem do meu trabalho e isso é gratificante, mas essa experiência me tocou a alma e me fez ver a capacidade que temos, cada um à sua maneira, de transformar a vida das pessoas”, explica Maria Oiticica.

Por conta da pandemia, foi necessário uma adaptação. Por meio de uma série de vídeos enviados por Maria, as artesãs participam de oficinas sobre técnicas de beneficiamento de sementes, furação, corte, polimento, tingimento e montagem, além de receberem conhecimento em temas como empreendedorismo e comercialização. Uma ONG local parceira faz a ponte entre empresa e mulheres, facilitando o intercâmbio das informações e acesso à internet. “A minha experiência pessoal diz que, em momentos de crise, temos que nos reinventar. O cenário atual pede, mais do que nunca, um esforço coletivo. Tenho certeza de que esta troca de saberes com a comunidade vai ser rica para todos nós”, conta Maria Oiticica.

Artesãs de comunidades rurais e quilombolas criam coleção de biojoias Imagem: Divulgação

“Trabalho com tantas pessoas há tanto tempo e nunca me senti tão próxima quanto nesse momento que tudo teve que ser virtual. Mas nesse momento que estamos vivendo, sem contato externo, virtualmente, era como se eu sentisse o cheiro do lugar”, explica Maria Oiticica sobre a experiência. Pensando na praticidade, os vídeos são curtos e sempre terminam com um estímulo à produção de conteúdo local.

Haverá a cocriarão de uma coleção, que será comercializada nas lojas da designer, abrindo mais uma nova frente de mercado para o trabalho das artesãs. Sobre o lucro, Maria explica que as artesãs recebem antes das vendas se iniciarem.

Imagem: Divulgação

“Elas recebem na produção, antes da venda acontecer. Entendemos que é mais justo não deixar as artesãs aguardando as vendas acontecerem para que sejam remuneradas, pois a venda pode demorar meses. Sempre tivemos cuidado especial com a geração de renda na nossa cadeia produtiva. Desenvolvemos uma metodologia de remuneração baseada no tempo de produção de cada biojoia, que demanda mais tempo de confecção e tem uma remuneração maior”, conta.

O projeto tem como objetivo inspirar as artesãs, para que criem e possam estar prontas para a retomada da economia. Jessica Oliveira do Rosário, 30, mora na comunidade desde que nasceu e trabalha com artesanato há seis anos e explica a importância do projeto para comunidade.

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“Eu já trabalho com artesanato juntamente com as meninas aqui, então o que foi bom para gente foi a oportunidade da gente conhecer, tipo assim, eu trabalho mais com coco da piaçava e a madeira sustentável, e Maria abriu um leque de oportunidades para gente trabalhar com sementes. A região, aqui mesmo onde eu moro não tem muitas sementes, é mais o coco, a madeira, mas juntamente com a Michelin que tem a seringueira, agora com esse projeto a gente está vendo um leque de oportunidades da gente trabalhar com outras coisas”, explica.

“Eu já tinha trabalhado outras vezes com a semente da seringueira, mas não sabia o potencial que tinha. Aí depois que a gente começou o curso, a gente começou a fazer colares com sementes, e começamos a ver, a ter um olhar diferente. Sair na rua, passar no mato, ver uma semente e enxergar a possibilidade de formar uma joia, um colar, então para mim o importante foi isso, da gente ter um olhar diferenciado, um olhar novo para outras coisas”, completa Jessica.

A artesã também destaca que, com o projeto, a comercialização fica mais fácil. “A maior dificuldade nossa é a comercialização. Agora com a Maria, com esse projeto, a gente está começando e acredita que vai abrir um leque de oportunidade onde as nossas peças vão ser reconhecidas em vários lugares.”

O acesso à internet foi um entrave para a participação no curso. “A maior dificuldade aqui na região é a questão da rede móvel, então fica um pouco difícil, mas não impossível. A gente criou um grupo no WhatsApp, e aí elas começaram a mandar vídeo e a gente também mandou vídeos mostrando, falando da gente, falando sobre o processo, então a gente se adaptou muito bem com essa parte, está sendo bem legal, mas seria melhor se fosse presencialmente.”

Apesar da dificuldade, o saldo foi positivo. E a ideia é que o projeto continue, formando novas turmas. “Tem coisas que a gente não sabia, e com Maria a gente está vendo a possibilidade de achar que uma madeira não ia dar para nada, e com o olhar que Maria tem, estamos vendo essa oportunidade. A gente tem o olhar de artesã. Ela veio na comunidade, já conheceu nosso ateliê, conheceu nosso trabalho. É muito gratificante”, diz Jéssica.

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