Vitor da Costa, jornal O Globo
A um mês do primeiro turno das eleições municipais, líderes de organizações do movimento negro e cidadãos comuns decidiram lançar a plataforma “#Votos Antirracistas”. A iniciativa tem o objetivo de apresentar candidaturas de pessoas negras que tenham trajetória de trabalho, vínculo e compromisso com a agenda do movimento no país.
Na página, há um pequeno resumo das propostas de cada candidatura, bem como eventuais links para as redes sociais e financiamento coletivo. A plataforma ainda tem as suas próprias redes e um espaço de blog para publicar textos analíticos, de membros do movimento e dos próprios candidatos. De início, já estão cadastradas cerca de 200 candidaturas ligadas aos vários grupos do movimento negro.
A plataforma também é colaborativa. Há um espaço para a indicação de novas candidaturas, desde que estejam conectadas às pautas dos movimentos. Após avaliação da curadoria do site, elas também serão registradas.
Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) obriga os partidos a dividirem as verbas do fundo eleitoral e tempo da propaganda em rádio e TV de maneira proporcional ao número de candidatos negros e brancos inscritos para a campanha. Trata-se da antecipação de uma nova regra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que em agosto havia determinado que ela fosse adotada a partir de 2022.
Para o professor Douglas Belchior, do movimento negro Uneafro Brasil e um dos envolvidos no projeto, a iniciativa representa o passo seguinte à decisão da Corte.
– O próximo desafio é qualificar essa representação. É importante que haja pessoas negras em todos os espaços da sociedade. Mas, no espaço da representação política, nós precisamos de pessoas negras que tenham compromissos com a agenda histórica do movimento negro – afirma Belchior
O comprometimento político das candidaturas apresentadas pela plataforma está expresso em quatro documentos que podem ser encontrados no site e sintetizam as propostas do conjunto do movimento negro para o país: Manifesto ‘Enquanto houver racismo não haverá Democracia’, a Carta de Princípios e Agendas da Coalizão Negra Por Direitos, a Agenda Marielle Franco e o Programa da Convergência Negra.
– É uma grande campanha não só do voto de negros em negros, mas do voto da sociedade, como um todo, em negros. Que a manifestação antirracista que implodiu nos últimos meses seja vista na hora do voto. Enquanto houver racismo, não haverá democracia – destaca o professor.
Para as eleições deste ano, o número de candidatos que se autodeclararam pretos ou pardos já ultrapassa os 270 mil, índice já superior aos quase 238 mil de 2016. Levantamento do GLOBO mostrou que, segundo dados da última eleição municipal, os candidatos brancos têm o dobro de chance de serem eleitos vereadores, em comparação com seus concorrentes negros.