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A estudante Nina da Hora Foto: Lucas Borba

Você Precisa Saber

Conheça Nina da Hora, nome quente na luta pela equidade de gênero e raça na tecnologia

A Estudante de Ciência da computação é um dos destaques do festival de empreendedorismo Menos30 Fest

Talita Duvanel, do O Globo

Erê vive em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, num lar com sete cachorros, seis “salsichas” e um poodle. Em junho, estava aprendendo a andar: se locomovia bem em terrenos planos e desviava de obstáculos com precisão. Mas em chão acidentado, como o do quintal da casa, se atrapalhava um pouco mais. Erê, ao contrário do que possa parecer, não tem pernas, pois não é gente. Ele tem rodinhas, afinal é um robô — e ainda possui uma placa Julieta, plataforma Falcon e sensores ultrassônicos e de refletância analógica (apetrechos que estas páginas não dariam conta de explicar). É obra criada por umas das jovens mentes mais promissoras da ciência da computação no Brasil: Ana Carolina da Hora, de 25 anos, mais conhecida como Nina da Hora.

Moradora de Caxias e estudante da PUC-Rio, a dona dos pets e do Erê têm feito sucesso com sua proposta de descomplicar e divulgar tecnologia e robótica nas redes sociais, jogando luz principalmente na importância da participação de mulheres e negros na área. Por causa de sua capilaridade e propostas inovadoras, Nina é uma das palestrantes da oitava edição do festival de empreendedorismo Menos30 Fest, que acontece de 31 de agosto a 4 de setembro, com transmissão no YouTube da TV Globo e no site do G1. Ela estará ao vivo no dia 2, às 18h, com o físico Marcelo Gleiser, discutindo sobre a necessidade de aproximar a ciência da vida das pessoas e contando suas trajetórias.

O caminho de Nina começou por volta dos 12 anos, quando aprendeu a programar com um computador da tia. “Criei joguinhos a partir do Google e dos livros que conseguia com os amigos professores da minha mãe. Aprendi a estudar usando materiais que tinha em casa”, diz Nina, filha mais velha de três crianças de uma professora de português.

Ciente de que sua praia era a ciência da computação, passou para uma universidade em Petrópolis e, durante um ano e meio, fazia diariamente o circuito Caxias-Serra-Zona Sul do Rio, por causa de um estágio. “Saía 5h30m da manhã e chegava 22h. Fiz amizades com motoristas, almoçava dentro do ônibus, até aniversário lá já fiz”, lembra ela, aos risos. “Foi bom para ter maturidade, aguentar a pressão, aprender a lidar com pessoas e com organização.”

Depois de 18 meses nessa levada, Nina pediu transferência para a PUC-Rio, faculdade de elite que, num primeiro momento, foi um lugar inóspito para seu talento ainda não descoberto. “Foi um choque. A maioria da galera, que só estudava, olhava e perguntava: ‘Por que você trabalha?’ Porque eu tenho outra realidade! Pagava meu curso de inglês e tinha começado a ajudar em casa.”

O robô Erê, criado por Nina Foto: Divulgação

Gênero e raça são questões, sobretudo num curso majoritariamente masculino e branco. Na graduação de Nina, por exemplo, há 33 mulheres num universo de 215 alunos, segundo a universidade. Que a jovem se lembre de pronto, só ela e mais duas são negras. “Existe o racismo por sempre termos de provar alguma coisa”, diz ela, relembrando um evento recente em que um homem resolveu dar dicas sobre o que ela deveria criar. “Deixei ele terminar e falei: ‘Se você teve a ideia, por que não a coloca em prática?’. A forma como fui criada em casa não me deixa baixar a cabeça.”

E não é para baixar mesmo, porque seu currículo é como poucos — tem de tudo um muito. Entre as coisas mais importantes que já fez, ela destaca o “Computação sem caô”, conjunto de vídeos no YouTube voltado ao ensino computacional de forma didática. A inspiração partiu da avó. “A minha sobrevivência financeira é uma preocupação dela até hoje. Pensei que precisava mostrar o que faço para ela conseguir entender até onde posso chegar. Aí surgiu essa oportunidade.” Outra atividade bastante importante, que deixou a família convencida do potencial de Nina, foi a participação no Apple Developer Academy, um programa patrocinado pela empresa americana para intercâmbio de tecnologia. Seu projeto foi tão bem avaliado que ela foi para o Vale do Silício ver de perto a estrutura da gigante fundada por Steve Jobs. “Muitas pessoas desmereciam, achavam meu trabalho sem importância e hoje dizem que admiram”, diz a jovem.

Mas, atualmente, o que mais lhe tem dado prazer é o Ogunhê, um podcast que conta a história de cientistas africanos e está disponível em plataformas de streaming. “É uma libertação. Nós precisamos de inspiração e referências. Comecei a pesquisar sobre esses cientistas e vou compartilhando aos poucos. Acredito que a Humanidade nasceu na África e quero ensinar outra perspectiva do continente.”

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Além, claro, de continuar fazendo robôs. “Vou só esperar o dólar baixar mais para comprar outras peças para o Erê”, diz ela.

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