Jovens brasileiros acham que internet facilita a dedicação aos estudos, mas piora a agressividade e extremismo
O resultado é da Pesquisa Juventude e Conexões, realizada pela Fundação Telefônica Vivo
Por Monique Evelle
Ao mesmo tempo em que a internet piorou situações de agressividade e extremismo, potencializou a dedicação aos estudos. Estes são dois dos resultados da terceira edição da Pesquisa Juventudes e Conexões, realizada pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com a Rede Conhecimento Social e o Ibope Inteligência.
De acordo com o estudo, 58% dos jovens acreditam que a internet piorou agressividade e o extremismo e 34% preferem não publicar as próprias ideias sobre política na internet para não sofrer ameaças ou brigar com alguém. Por outro lado, 59% não se sentem ouvidos ou representados quando o assunto é política e causas sociais.
O resultado da pesquisa reflete o cenário atual do Brasil. Com diversos casos de intolerância política, agressividade, polaridade nas redes, a juventude traz pensamentos compatíveis com esse momento de país. A participação social é, inclusive, um tema pouco presente no cotidiano da juventude, a qual demonstra distanciamento em relação às formas tradicionais de participação, como greve (12%), partidos políticos (7%) e sindicatos (5%). A principal explicação é de que não haveria espaço para os jovens dentro dessas mobilizações e agremiações mais tradicionais.
Percebe-se que os jovens têm um entendimento muito amplo sobre o que seria participação social, a qual veem a partir de óticas muito diversas, como ações comunitárias ou voluntárias, doações (financeiras ou não), luta por direitos humanos ou de animais, compartilhamentos em redes sociais e conversas fora do mundo online. Ainda que todas essas atividades sejam válidas, a pesquisa aponta possíveis formas para estimular uma participação social mais efetiva:
- Participar tanto nas redes sociais e quanto nas ruas. Ou seja, nem só de postagens e compartilhamentos vivem as causas.
- Levantar e discutir as mais diversas pautas, sejam elas antigas ou emergentes. Vale para questões de gênero e raça, direitos trabalhistas e previdenciários, entre outros.
- Mobilizar potenciais lugares não convencionais para a mobilização e participação social, como ciberativismo e plataformas coletivas.
Outro dado impactante tem relação com as causas que os jovens acreditam ser mais importantes para o país e com as quais estão mais dispostos a se envolver. Segundo o levantamento, 32% acreditam que qualidade da educação é um tema importante para o país e 27% estão dispostos a se engajar. Direitos das mulheres são um tema que 16% consideram importante para o Brasil e a respeito do qual 21% querem se envolver.
Sobre educação, aliás, um dado interessante é que 55% dos entrevistados acreditam que a internet melhora a dedicação dos estudos, enquanto 42% deles não consideram que aprendem melhor com usos das tecnologias em sala de aula.
Juventude e tecnologia são dois temas bastante relevantes para nós no Desabafo Social. Quando, em 2015 criamos o projeto Inventividades, com foco em potencializar empreendedores das periferias brasileiras, sentimos na pele os efeitos que a exclusão digital pode ter sobre o futuro dos jovens. Para muitos dos que participaram da iniciativa, o sucesso na vida e nos negócios está diretamente relacionado às informações e conexões viabilizadas pela internet. Dois objetivos que podem ser difíceis de realizar em um país onde 63 milhões de pessoas não têm acesso à internet.
Acreditamos que uma pesquisa como a Juventudes e Conexões tem importância fundamental para auxiliar o Desabafo e outros projetos a visualizar os pontos de convergência e divergências das múltiplas juventudes que coexistem no país e, assim, potencializar ações capazes de acolhê-los em suas particularidades.
Os dados que apresentamos no texto são apenas uma pequena amostra. A versão integral do estudo está repleta de dados que permite insights valiosos. Confira aqui e conta para a gente: qual foi a informação que mais te surpreendeu?