Por Monique Evelle
Fico impressionada como as pessoas não tem limites e respeito com outras. Fico impressionada porque não quero me acostumar a ser apenas um sujeito que qualquer um pode demandar o que quiser e receberá sim como resposta.
Não é porque sou mulher, negra, atuante na luta antirracista que preciso dizer sim para todos os pedidos dos movimentos sociais.
A criação de uma intimidade que não existe, a ponto de pedir o número de telefone de Lázaro Ramos ou Cris Vianna, ainda me espanta. Quando a frase não é:
Oi Monique, tudo bem? Você pode me passar o número de Lázaro? Gostaria de fazer um convite pra ele.
Ela é:
Quero você lá…
Você pode fazer isso…
Agora que você está assim, você deveria…
Só que esquecem que:
- Quem tem que querer sou eu
- Quem tem que saber se posso ou não, também sou eu
- Quem deveria saber sou eu também
Estou triste de tanto ouvir de várias, várias, várias irmãs pretas dizer que estão cansadas, que se pudessem parar um pouco a militância, iriam parar. Um dia eu abracei uma irmã com tanta força que deu pra escutar a dor dela em mim. Depois disse, que ela poderia parar sim, quando quisesse. Mas o problema está no julgamento.
Ela sumiu! Cadê ela agora? Deve ter ficado rica!
Fiz um post no Facebook assim:
Esperando o dia que os estudantes de jornalismo me chamem para falar sobre qualquer coisa que não seja racismo. Afinal, não sou apenas jornalista. Sou uma jornalista negra. Sempre nego esses convites com um exemplo clássico e objetivo para não insistirem tanto:
A: Ah, mas Pelé não fez muita coisa pelos negros
B: E Zico?
Uma estudante de jornalismo respondeu:
Te chamei pra falar sobre representatividade e mesmo assim não fui respondida, rs
Aaaah, como vocês cansam e adoecem seus irmãos pretos, suas irmãs pretas. Às vezes sabendo, às vezes não. Respirei para responder sem ser agressiva. E a resposta foi a seguinte:
Essa mensagem é válida para esse tema também. E realmente não é possível dá conta de tudo, principalmente das demandas das pessoas. E às vezes não vejo, porque estou tentando cuidar de mim ou porque são muitas mensagens só solicitando ou pedindo algo, saca? Não quero viver sobre as demandas de militância. Tô cuidando de mim um pouco.
Não tinha outra coisa pra falar, sério! Acho que devo ter chegado num nível que as pessoas só conseguem demandar coisas e ficam chateadas quando não são atendidas. Mas não são elas que estão comigo quando tenho que me internar e ter ouvir sozinha o diagnóstico de burnout.
Então, não me preocupe em dizer não quando devo e quero dizer. Não fico mais preocupada quando não consigo ler os milhares de e-mails, mensagens por inbox e directs que recebo todos os dias. Se as mensagens fossem pelo menos de “como você está?”, eu ficaria feliz. Mas todas começam com:
- Cadê você?
- Faça!
- Deveria…
- O que você acha?
Gente, na boa. Eu não preciso dizer onde estou, não preciso fazer, não deveria nada e não acho nada. Falam-se tanto de empatia, mas vocês não são empáticos, são invasivos.
Neste momento, eu até queria bater palmas pro sol, fazer ciranda e ficar nessa viagem namastê (tudo que vocês criticam), porque viver sob as demandas da militância, é um perigo.
Este texto pode causar várias interpretações. Mas vale destacar que cuidar da gente não significa desistir da luta e sim pausar e respirar para caminhar melhor e continuar lutando pelos nossos.