-Você não é trans!
Gritaram em redes sociais
-Você não é homem!
Falou minha família
-Você só pode estar confuso!
Meus amigos disseram
-Mas você é uma menina tão bonita
Disse um estranho
-Você não é mulher, é um homão da porra!
Uma voz ecoou aqui dentro.
Já se passaram 10 anos desde que renasci. Nos 9 primeiros anos aprendi o que é vivenciar o mundo feminino e como não ser um homem repulsivo. Nesse último ano descobri o quanto é difícil ser um homem de buceta. Devo fazer tudo em dobro do meu melhor ou nunca vão me validar a carteira TransBR.
Vejo discussões a todo vapor sobre “que banheiro usar?” Que hormônio é melhor? Homens trans com mulheres lésbicas, pode ou não?
A questão é: Quem você é? Quem eu sou? Porque criar padrões se já estou fugindo de um?
Tenho vagina e que me impõe que devo viver de acordo com o que é imposto para tal sexo, mas quando me afirmo trans querem a todo custo que eu caminhe em busca de uma passabilidadecisfalocentrica, é como andar de um lado para outro, sem fim. Às vezes parece que não posso ser eu.
Ser trans nesse mundo hétero-cisnormativo-falocentrico, é me questionar em alguns ambientes que banheiro vou usar. Afinal, não posso arriscar minha única vida. Ser trans é ter receio de falar meu nome para outro homem e ir parar no hospital. Ser trans é começar a se cobrar masculinidade para que seja aceito até no mesmo meio. Ser trans é solidão, às vezes mãos dadas com outra solidão. Ser trans é ser objeto de estudo, fetiche sexual e o amigo do rolê. Ser trans é ser rejeitado em quase todos os lugares. Ser trans é ter a certeza do incerto. Ser como eu é sair sem saber se vai voltar, é viver em medo constante e luta diária, seja contra o CIStema ou contra todas imposições de padrões.
Transsexualidade é como você se enxerga e se sente, não tem a ver com terapia hormonal, retificação de nome, cirurgia ou quem você se relaciona. Transsexualidade é seu encontro mais profundo e sincero com seu próprio eu.