Antes de entrar na faculdade, independente do curso que escolhi, pensava que só o fato de conseguir chegar nesse espaço, já seria o suficiente para escolher uma carreira que julgam como nobre. Ou já seria o suficiente para ver meus esforços e lutas diárias válidas, ou seria a ovelha desgarrada do rebanho que seguiu para o local que a casa grande julga designado para o preto, pobre, favelado.
Pós entrar na faculdade a minha observação sobre a reação de outros pretos sobre outros pretos que adentram na universidade se modificou de forma completamente diferente. É como se o fato de ter escolhido uma profissão que não o Direito ou Medicina não fosse o suficiente para ter comemoração e vangloriação. Não basta ter apenas uma graduação.
Pra ser suficientemente boa, tenho que ter graduação, PhD, mestrado e um arsenal de academicismo. Só assim serei, no mínimo, respeitável para falar sobre determinado assunto. Mesmo que eu tenha domínio, não sou apta para falar por não ter me especializado ou conseguido um canudo. E eu até concordo em partes com isso, afinal, de achismos já basta as lorotas da branquitude. Ter seus esforços reconhecidos etc etc etc… seria esse o mais novo ideal de ego que Neusa Santos fala sobre os fatos de tornar-se negro?
Vacina: Não. Não estou dizendo que entrar numa universidade e estudar pra ter um diploma não seja importante, mas me incomoda essa vangloriação que fazem quando um preto passa no vestibular ou consegue um diploma de medicina ou direito.
Pensava que só o fato do preto entrar numa universidade e continuar estudando e ascendendo socialmente fosse uma forma de comemorar suas conquistas.
Muitas vezes tenho a impressão que só é digno de dizer “casa grande surta” apenas quando estão nesses cursos ditos “nobres”.
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