O Carnaval de 2016 será marcado pela primeira ação oficial da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD), uma rede de organizações e ativistas negros que debatem a construção de uma nova abordagem para o tema, tendo em vista o impacto desproporcional da chamada ‘guerra às drogas’ sobre a população negra em todo o país.
Apoiado pela Open Society Foundations, por meio de uma parceria com o Coletivo de Entidades Negras (CEN) e a Rede Latino Americana de Pessoas que Usam Drogas (LANPUD), o grupo vai desfilar em um bloco na Mudança do Garcia, na segunda-feira da festa. Além disso, vai exibir um vídeo sobre violência e o racismo em telões de trios elétrico, palcos de shows e nas redes sociais.
A frase ‘Tire seu racismo do caminho, que eu quero passar com a minha cor’ será o mote da campanha, explica o coordenador da INNPD, Dudu Ribeiro. De acordo com o ativista, o lançamento da Iniciativa Negra no Carnaval tem como objetivo demonstrar como a festa é, em Salvador, uma afirmação contundente do racismo estrutural presente na sociedade brasileira.
“A abordagem policial diferenciada, a passagem dos blocos de corda, cercados por cordeiras e cordeiros pretos, além dos camarotes brancos protegidos por outros pretos, são um retrato do desigual acesso à folia”, argumenta Dudu. “Por isso que é fundamental fortalecer essa rede negra e construir a resistência em prol daqueles que constroem o Carnaval e a história da cidade”, defende.
Calendário
A ação desenvolvida pela Iniciativa Negra no Carnaval é a primeira entre várias que estão programadas para os próximos meses, explica Dudu Ribeiro. Até julho, a rede tem a meta de debater a política de drogas com entidades do movimento negro, ativistas brasileiros e outros parceiros regionais. A síntese das conversas será apresentada em um documento na Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU, que esse ano acontece em Nova York, tendo como tema as drogas.
O evento é também uma preparação para a reunião da Comissão de Narcóticos e Drogas da entidade (UNODC), que deve reformular, em 2019, parte das orientações das Nações Unidas para a política de drogas no mundo. “Nosso objetivo é contribuir com os debates que serão travados nas agências internacionais, reafirmando a importância de falar sobre racismo nas decisões sobre a política de drogas”, sintetiza Ribeiro, pontuando conquistas que o grupo já obteve: “Conseguimos, nesse primeiro momento, contribuir com o documento oficial do governo brasileiro, que já nos aponta ao menos um novo tratamento do tema, reduzindo o foco na repressão”, comenta.
Contato para entrevistas: Dudu Ribeiro – (71) 9 9331-2844