Por Yananda Lima
No último sábado (03) o Desabafo Social realizou uma gincana com alunos do 7º e 8º ano da Escola Municipal Professora Suzana Imbassahy. A dinâmica foi dividida em duas etapas, nas quais, através da discussão de questões como gênero, relações raciais e orientação sexual, buscamos auxiliar na formação de adolescentes críticos e atuantes no meio em que vivem.
Na primeira parte da gincana foram divididos os grupos, que ficaram incumbidos não só de escolher o nome da equipe em consenso, como também formular perguntas relacionadas ao tema sorteado para cada um.
A reunião do grupo para seleção das perguntas iniciou o processo de debate. Durante as conversas os jovens já problematizavam questões como racismo e bullying e traziam exemplos, como o caso do ator Vinicius Romão, preso injustamente ao ser confundido com um ladrão. “O policial não tinha informações detalhadas sobre o ladrão e prendeu (Vinicius) só porque é negro.” apontou Laila, 15 anos, integrante da Equipe Amarela.
À medida que os casos eram discutidos, a conversa avançava, tornando-se cada vez mais fácil formular questões, já que essas apareciam naturalmente. Haviam membros mais dispersos, como era de se esperar, mas todos contribuíram de alguma forma, seja na escolha do nome e grito de guerra, com sua criatividade ou na formulação e debate de questões.
Logo após essa primeira parte, todos nos reunimos para discutir as perguntas colocadas. Questões como os direitos dos adolescentes em relação à educação, apelidos dados a uma colega (bullying) e principalmente questões raciais, foram problematizadas e discutidas por todos. A pergunta era feita e quem se sentisse a vontade para responder, tinha total liberdade para pegar o microfone e começar a abordar a problemática.
Uma das questões, formulada pela Equipe Evolução, questionava o motivo da exclusão do grupo LGBT do Estatuto da Família e foi respondida de forma unânime. “Porque dois homens e duas mulheres não podem ter filho o pessoal exclui. Muito pelo lado da religião também, muita gente diz que o homem é feito para a mulher.” disse uma das integrantes da Equipe Azul.
Após um intervalo de 15 minutos, afim dos alunos lancharem e descansarem, o Desabafo começou a segunda parte da gincana. A intenção era incentivar o debate de mais questões e expor aquelas que mais os afligiam de maneira particular. Surpreendentemente, inúmeros alunos não só se dispuseram a contar histórias de pessoas próximas ou que viram na mídia, como também relataram casos que eles mesmos viveram.
Foi o caso da Carla, da Equipe Azul, que já sofreu preconceito por ter cabelo cacheado. Segundo ela, as pessoas a questionavam sobre o porquê dela não alisar seu cabelo, já que, dessa forma, aparentemente, ele ficaria “maior” e “melhor”. “Nós vivemos em um país democrático, nós temos direito de escolha. Cada um deveria escolher como quer (seu cabelo), se quer alisado, cacheado, crespo, ondulado… Você é dono de você mesmo. Você pode ter uma metade cacheada e uma metade lisa se quiser.” afirmou a garota de 15 anos, sendo aplaudida por todos.
A discussão seguiu com outros depoimentos e citações de casos que se tornaram famosos através da mídia, como os de racismo contra a jornalista Maju e o jogador de futebol Daniel Alves. Para os adolescentes, a campanha Somos Todos Macacos, feita após Daniel ter sido chamado de macaco pela torcida, pode ser considerada como “racismo por cima de racismo”, já que não somos todos macacos, mas sim humanos.
A estudante Carol, de 14 anos, também fez seu desabafo, contando sua história relacionada ao bullying. Há 10 anos aluna de dança, a adolescente disse ter sofrido com as ofensas contra ela no início do curso, nas quais as colegas a chamavam de gorda, inclusive ameaçando tranca-la no banheiro durante a aula. “Isso foi uma coisa horrível. Tudo aquilo magoava muito. Eu acho que as pessoas não devem julgar ninguém pela aparência porque o que importa é o que vem de dentro. Então, por favor, não pratiquem bullying com ninguém.” pediu a integrante da Equipe Amarela.
Inicialmente dispersos, ao longo da dinâmica os jovens foram atraídos pelas histórias tão particulares dos seus colegas, por vezes semelhantes com as suas próprias. Grupos que antes conversavam na primeira parte da gincana, na segunda, olhavam fixamente cada adolescente que pegava o microfone, com os ouvidos atentos prontos para escutar cada desabafo.
Segundo a coordenadora do Colégio Suzana Imbassahy, Maria Durvalina, a dinâmica foi importante justamente por permitir aos jovens que se conheçam mais. “É uma forma de passarem a olhar o colega de uma forma respeitosa justamente por conhecerem a trajetória daquela pessoa, e essa oportunidade eu acho ímpar.” afirmou a coordenadora.
A construção de conhecimento de uma forma dinâmica e prática e a possibilidade de mudança através da percepção do outro também foram pontos levantados por Maria Durvalina como importantes da dinâmica. “É quando toca no profundo das pessoas que elas têm a possibilidade de se modificar, mudar a forma que se veem e se relacionam com as pessoas. Eu estou muito satisfeita.” contou ao Desabafo.
Ao final da gincana, alguns alunos contaram o que acharam da experiência. Felizes em poder não só ouvir os depoimentos dos colegas, mas também expressar as suas opiniões e debater sobre os seus direitos, eles nos abraçaram e agradeceram o espaço construído por e para cada Desabafo Social.