Não é um assunto muito frequente entre os principais tópicos de discussão e “protestos”, mas eu, como estudante de arquitetura e urbanismo, tenho estudado muito sobre espaços públicos, principalmente sobre praças e jardins, e é perceptível que Salvador não tem uma “cultura de praça”, no sentido de aproveitá-la, não para beber em botecos de quinta, estacionar o carro e fazer shows decadentes, mas no sentido de compartilhar interesses, passear com pequenos grupos de conversa, fazer piqueniques, atividades físicas, etc.
Salvador não investe. E quando investe, perde para meliantes, moradores de rua, vândalos e, tenha consciência disso, eu e você. Estamos degradando nossas praças cada vez mais e o resultado disso são pessoas que tem medo de frequentá-las, pois dizem estar entregues aos marginais e drogados. Essas mesmas pessoas buscam refúgios nos shoppings centers, que têm aumentado de número de maneira alarmante. Quando não, essas pessoas se escondem dentro de seus condomínios de altíssimo luxo, criando em torno de si uma “cidade particular”. Porém são essas mesmas pessoas que não estimulam o uso e a conservação das praças públicas.
Um exemplo de que o espaço público poder ser muito bem utilizado é o Central Park. Nunca fui, mas já ouvi comentários muito agradáveis sobre como as pessoas, de todos os estilos e idades, aproveitam o espaço. Crianças brincam, idosos caminham, casais namoram, esportistas praticam seus esportes… Enfim. Aqui em Salvador temos o Parque da Cidade, mas e aí? Como ele está agora? Eu, você e a prefeitura abandonamos o parque. Esse é só um dos muitos exemplos.
Recentemente fui a uma praça na Alameda das Espatódea fazer um estudo para um trabalho da faculdade. O trabalho consiste em analisar a praça, seus problemas e criar um projeto solução. O que encontramos? Bancos e brinquedos quebrados, gramado mal cuidado, pedras portuguesas quebradas por todos os lados, falta de acessibilidade, péssima iluminação… O entorno da praça virou estacionamento para os moradores. Segundo o dono de uma banca de revista, quase ninguém usa a praça, nem os alunos das escolas próximas, nem os moradores e, principalmente à noite, ninguém passa por ali, por causa da falta de segurança. A praça foi, inclusive, cenário da violência contra o baterista de uma banda famosa da Bahia.
Até quando deixaremos a cidade morrer em prol das diversões capitalistas, dos shoppings centers, dos condomínios selados? Tem alguma coisa que nós podemos fazer para mudar esse quadro? Fica a questão para quem puder pensar.
Eurídice Cavalcante.
Salvador-BA.
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