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24.fev.2015 - Vitoria-regia em um corixo do rio Paraguai no Pantanal Mato-Grossense na região de Cáceres Imagem: Lalo de Almeida/Folhapress

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Em meio a incêndios no Pantanal, rio Paraguai enfrenta pior seca em 50 anos

Leandro Barbosa, colaboração para o UOL, em Jundiaí (SP)

O principal rio do Pantanal, o rio Paraguai, passa por um momento crítico com o pior nível do curso de água dos últimos 50 anos. Tal situação agrava o avanço do fogo que já queimou cerca de 3 milhões de hectares da maior planície alagável do planeta, segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).

O Pantanal vive uma das piores secas de sua história, com uma média de chuva 40% menor que o mesmo período dos anos anteriores. A área queimada já equivale a mais de 10 cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas, dizimadas pelo fogo.

O rio Paraguai é o oitavo maior em curso de água da América do Sul. Nasce no Brasil e passa pela Bolívia, Paraguai até chegar à foz na Argentina. E, atualmente, sua vazante está registrando cotas próximas das mínimas históricas em diversos pontos ao longo do seu percurso, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil.

Dados apresentados pelo órgão ao UOL revelam o estado crítico do rio. Em Mato Grosso, no município de Cáceres, desde junho o Paraguai está registrando o menor nível dos últimos 55 anos: na sexta-feira (18), atingiu 54 cm.

Em Mato Grosso do Sul, próximo de Corumbá, no porto São Francisco, considerando os últimos 53 anos, apresentou também uma das cotas mais rigorosas: 3,32 m. Em Ladário o resultado foi extremo: 25 cm de profundidade no leito do rio. Em Porto Murtinho, sul do estado, em 81 anos de monitoramento a vazante deste ano está entre as 12 mais rigorosas.

“Para entender o impacto do rio estar com uma lâmina d’água tão pequena, quando a cota em Ladário atinge 1,5 metro a Marinha do Brasil já adota restrições de navegação. Em 120 anos de monitoramento, esse valor está entre as treze vazantes mais rigorosas”, explica o pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, Marcelo Parente Henriques.

Em 2020, faltou uma coluna de 2 m de água se espalhando, diz especialista

Para o pesquisador, a interferência humana no Pantanal, como a pecuária, o crescimento das fronteiras agrícolas e das cidades pode estar ultrapassando o que o bioma suporta, gerando como resultado o cenário atual. “Este ano, em relação a valores médios, faltou uma coluna d’água de dois metros se espalhando pelo Pantanal. Então, teve uma grande área da planície que não recebeu água alguma”.

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Marcelo explica que no Pantanal mede-se o comportamento da água, chamada de onda de cheia, por metros. “Quando o nível na régua atinge de quatro a cinco metros temos uma cheia pequena. De cinco a seis uma cheia média. E acima de seis metros é considerado uma grande cheia”, explica.

“Em 1988, atingiu 6,64 metros e o rio Paraguai expandiu seu leito alcançando 20 km de largura na região de Corumbá. No ano atual, o nível máximo que o rio Paraguai atingiu, chamado pico da cheia, foi apenas 2,06 m na estação de Ladário, que possui aproximadamente 120 anos de registros de dados de nível d’água”, afirma.

Não é a primeira vez que o Pantanal sofre com a seca. O bioma passou por algo semelhante na década de 60. Segundo dados do Serviço Geológico do Brasil, depois deste fenômeno, em 1980, o rio Paraguai passou a apresentar níveis de estabilidade novamente. Nos últimos anos este nível voltou a baixar — devido a uma sequência de anos com chuvas abaixo da média combinados a uma seca extrema este ano, segundo o pesquisador ouvido pelo UOL.

Plantas e animais queimados podem saturar água e matar peixes

Embora a chuva seja necessária para apagar o incêndio que aflige o Pantanal, ela também preocupa por causa da matéria orgânica gerada pelo fogo — desde a vegetação a animais queimados que podem ser levados da planície alagada ao Rio Paraguai. “É muita matéria orgânica para decompor. Ela vai tirar o oxigênio da água e matar os peixes. A nossa previsão é que vai haver uma grande mortandade de peixes”, afirma Carolina Joana da Silva, professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e coordenadora do Projeto Ecológico de Longa Duração Dinâmicas Ecológicas na Planície do Alto Rio Paraguai.

Carolina explica que a morte de peixes nas cheias sempre acontece no Pantanal. Para a pesquisadora, o problema deste ano é a dimensão do território destruído pelo fogo. “A quantidade de matéria orgânica será muito grande. Incomum. Ainda no período da piracema. Além da gente ter que recompor a vegetação, o macrohabitat do Pantanal, vamos ter que recompor água também.”

“A gente não sabe como essa água vai estar até mesmo para ser consumida”, afirma a pesquisadora. E completa: “estamos à mercê do clima. Vamos ter que criar estratégias mais adaptativas. Precisamos de governança para lidar com tudo isso”.

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