Por Monique Evelle
Olá meninas! Tudo bem?
Gostaria que entendessem que não irei crucificá-las pelo vídeo e não se ofendam caso eu venha chamá-las de brancas. Vocês são brancas. Talvez o incomodo seja porque a branquitude não se entende como um coletividade. E provavelmente vocês nunca ouviram frases como “ela é uma ótima cantora branca! “. Afinal, só utilizam frases como essas para se referir a pessoas como eu: negras.
Mas voltando ao assunto, super entendo que há pessoas que, por ignorância, não sabem sobre determinados assuntos. Ninguém nasceu descontruidona, não é mesmo? No vídeo Objetificando, parece que esse é o caso de vocês. Mas calma. Deixa eu explicar porque parece.
Quando vi o título, confesso que fiquei um pouco pensativa se clicava ou não para assistir. Revolvi assisti. Realmente, se eu fosse um pouquinho menos esclarecida iria adorar o vídeo. Mas neste momento, não é meu caso.
Lívia, eu sei que o quadro “não é pra ser politicamente correto”, como você mesmo respondeu para uma internauta em seu canal. Eu sei que no fundo você sabe que esse vídeo foi desnecessário, afinal você respondeu para sua seguidora “às vezes o que é engraçado pra uns, não é pra outros, normal.”. Mas não é normal, sabe? Não pode ser normal quando para pessoas brancas, como é o caso de vocês, fazer comentários racistas soa engraçado, enquanto pra mim e tantos outros negros e negras, o nome disso é violência.
Eu acho, não posso ter certeza porque não as conheço direito e não vou jogar seus respectivos nomes no Google, que vocês se consideram feministas. Digo isso porque já ouvi algumas músicas da Lívia e vi alguns vídeo da Bárbara com Clara Averbuck. Deve ser por isso que vocês tentaram no quadro “(0:50) dá um pouco do sabor para os MCs homens a possibilidade de serem objetificados”. Sei o quanto o machismo machuca e mata.
10 minutos antes de assistir seu vídeo, vi essa foto no instagram:
Feminismo sem interseccionalidade é apenas supremacia branca. Parece que foi um sinal para me preparar para o vídeo. Vocês usaram do feminismo para alimentar o racismo. Me digam, como conseguem lutar contra uma opressão e alimentar outra? Parece um pouco incoerente, não?
Vocês escolheram apenas homens com um único tipo de fenótipo. Provavelmente devem ter usado esse viés inconsciente da branquitude que, infelizmente, é o que algo bastante comum.
Bárbara, quando você diz que:
(12:15) Ele é aquele cara que você vai encontrar ele saindo do camburão e você olha pra cara dele e não sabe se entrega o telefone ou se tira a calcinha. É uma dúvida. Meus Deus do céu, será que sento na cara dele, será que passo minha carteira? Eu não sei o que eu faço. Nossa Senhora, ele vai me roubar, ele vai me comer? A gente não sabe. Essa é dúvida é parte da atração que ele carrega com ele. Você olha pra cara dele, ele parece com aquele cara que tá lá na biqueira com o fuzil na mão e isso é sex.
Isso é perverso.
Acho que vocês não conhecem a campanha “Eu Pareço Suspeito”, né? Senão não falaria algo assim. Com certeza, não foi por mal, né? Sempre ouço essa justificativa da branquitude. Já estou cansada! Mas dando spoiler a campanha é um instrumento de ação no combate ao racismo institucional. Pesquisas mostram que a violência racial agrava-se em situações de abordagem policial, onde a vítima com “esse padrãozinho específico” é “suspeito em potencial” por ser negro.
Por isso não é aceitável, Bárbara, uma fala como essa:
(13:34:) Mas se eu trombar um cabloco desse na rua com essa mesma cara vou pensar a mesma coisa dele: Meu Deus do céu, não sei se tiro minha calcinha ou se entrego minha carteira. Essa é a dúvida que me acomete com pessoas que se encaixam nesse padrãozinho específico.
Lívia, obrigada por dizer que:
(13:20) Esse pensamento é coletivo , porque já ouvi de um pessoal já. Essa confusão de o que é que eu faço.
E lembrem-se: vocês não estão sendo atacadas por pessoas negras. Estão sendo notificadas pelo racismo que cometeram. O mantra é: Não lutem contra uma opressão, alimentando outra.