Muito se romantiza na internet acerca das relações afrocentradas, sonhos de consumo de muitos negros e negras nas redes sociais. Existem inclusive grupos específicos para procura de pares pretos.
Eu, pessoalmente, nunca havia pensando no quanto foi saudável para mim assumir uma relação com uma pessoa que também é negra. Contribuiu de formas significativas para o meu psicológico, que vinha sendo abalado em relações interraciais.
Respeito a expressividade do amor em todos os cantos. Na verdade o que venho expor aqui têm o rabo bem mais embaixo.
Durante a universidade, participando pela primeira vez de coletivos de consciência preta me percebi negro e este foi um momento muito importante para mim e apartir disso pude perceber o quanto o racismo se fez presente em minhas antigas relaçoes com homens brancos.
Desde uma pequena fala com enormes consequências como:
Você não vai cortar esse cabelo? Está muito alto não acha?
Lembro de minha última relação onde meu ex namorado, bom não sei se posso considerar isso um namoro.
Mas continuando. Lembro da forma que nos conhecemos e se eu tivesse respirado e analisado com calma toda a conversa não teria começado uma ‘’ coisa’’ com ele.
Nos conhecemos nos famosos aplicativos cardápio, onde colocamos nome,idade e preferência sexual para um cardume de homens desesperados por sexo e talvez uma relação que dure duas semanas para expor felicidade em suas vitrines passageiras. Ele chegou perguntando quantos centímetros eu tinha, e isso me incomodou mesmo não tendo consciência no início e continuou me interrogando sobre minha performance sexual.
… Impossível… Um negão como você não aguentar mais de trinta minutos de sexo. Com uma pica dessas..
O branco continuou com seu racismo injetado de forma oculta no aplicativo. Perguntando se eu era afeminado, já que um ‘ negão desses’’ como ele havia dito não poderia ser afeminado. Nem mesmo o direito de performar nossas verdades temos, enfim. Ele continuou e sugeriu com sua dedução lotada de hipersexualismo…
.. Tudo bem, você até pode ser o ativo mas não vá me machucar demais ein..
Sugerindo novamente com sua visão racista e fechada que eu fosse um ‘’ negão agressivo e rasgador de corpos’’
A relação continuava e foi tudo um traste. Não podíamos ficar e todos os locais e as festas lotadas de pessoas racistas eram as piores. Amigos perguntando quem era o homem ou a mulher da relação. Os amigos pedindo para que eu sambasse nas sociais e e até tocar bandeiro (risos)
Meu visual sempre foi uma extensão de minha consciência enquanto pessoa preta. E ele implicava com meu uso de turbantes, minhas roupas que eram étnicas demais e pareciam segundo ele roupas de palhaço. As minhas músicas de favela e sons de preto. Os funks que para ele era agressivos e sempre a obrigatoriedade de que eu gostasse de Beyoncé pois sou negro e bla, blá, blá.
Esta postagem ficaria enorme se eu colocasse aqui as inúmeras situações em que sofri racismo dentro de uma relação interracial. Hoje estou namorando e muito realizado meu namorado preto. Muitas coisas não são questionáveis pra ele, pois ele também é uma pessoa negra e acabamos seguindo certos pontos no automático.
A quem opta por essas relações, indico diálogo sempre para que ambos entendam seu lugar e todas as opressões que abarcam o corpo de um negro LGBT.
Não falo aqui das situações passadas por outras siglas por questões simples de .. ‘’ não tenho local de fala’’