Por Monique Evelle
Primeiro, gostaria de agradecer a existência de vocês. Admiradores ou haters, muito obrigada! Eu fico feliz a cada depoimento que recebo. Me dá uma força, sabe?! Mas gostaria de compartilhar algumas coisinhas.
Vocês me cobram tanto e depositam em mim tantas expectativas que às vezes esquecem que tenho apenas 22 anos. Me admiram de um jeito e me odeiam de tantos outros que também esquecem que sou apenas uma pessoa e não mulher maravilha. Querem que eu responda suas dúvidas, auxiliem em seus projetos, mas nunca me perguntaram se estou precisando de ajuda, se tenho dúvidas.
Eu adoro ler aqueles depoimentos quando o Profissão Repórter vai ao ar. Fico feliz em ver que tem pessoas que se espelham nas minhas ações. Eu leio todos comentários, todos desabafos de vocês, mesmo que eu demore a responder. Mas vocês não param para me escutar quando o assunto não é racismo, sexismo e machismo. Eu sei falar de outras coisas!
Quando desativei o Facebook, recebi milhares de directs no Instagram perguntando quando iria voltar. Apenas um dizia: Se tiver precisando de ajuda, estou aqui tá?
E eu realmente estava! Estava precisando respirar, estava cansada, estava exausta. Cheguei até desmaiar.
Quando estou numa festa e vocês chegam pra falar comigo, sempre respondo e trato bem. Mas já pararam pra pensar que se estou numa festa, eu quero curtir como qualquer jovem e não falar de trabalho?
Obrigada por dizer que represento vocês. Sim, a representatividade é super importante, mas não pode ser utilizada como justificativa para continuarmos parados e aceitando que uma única mulher, um único negro, um único gay é suficiente em determinados espaços. Não darei conta de tudo sozinha.
Eu perdi muitos amigos/as. Seja pela PM, seja pelo tempo, seja porque não eram tão amigos/as assim. E fico muito feliz quando vocês chegam perto querendo uma proximidade não forçada e sem fanatismo.
Tenho várias confissões a fazer e que podem decepcioná-los. Sabe aquelas pessoas que vocês criticam no Facebook por que gostam de sertanejo? Eu sou uma delas. Marília Mendonça me fez amar sertanejo. E aquelas que vocês crucificam por que assistem novela das 9? Sou eu! Mesmo assistindo apenas os finais das novelas, eu sou uma delas. E se duvidar, dou até uma olhadinha no BBB. E aquelas que não podem gostar de artistas brancos? Também sou eu. Sabe quando vocês querem que eu opine algo? Então, às vezes eu não sei ou não quero ou quero evitar tretas.
Aposto que vocês não sabiam que poesia e música são meus hobbys. Minhas poesias, minhas músicas falam de amor. Mas parece que seus ouvidos estão acostumados a dor e tretas. Não é possível que só isso nos aproxime.
Tem coisas que não posso sair verbalizando, porque vão contra a imagem que vocês construíram de alguém considerada parte da militância. Ou seja, é 8 ou 80. Afinal, por estar no Profissão Repórter hoje, há quem acredite que minha militância chegou ao fim.
Vocês me julgam quando ganho dinheiro, mas militância não é meu trabalho, não é minha profissão. Eu ganho dinheiro com o que me formei e agora com meu trabalho enquanto jornalista. E não deixarei de ganhar. Até porque vocês não estavam comigo e nem fizeram vaquinha no dia 24 de dezembro de 2015 quando eu precisava de um leito de hospital para meu pai não morrer. A diária no hospital particular era R$ 5.000 e no público não tinha vaga. Um dia alguém disse que ” entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, fique com os dois”. Estou fazendo isso.
Calma, isso não é para afastar vocês. É só pra trazer humanidade pra mim. É um desabafo. Eu tenho minhas inseguranças, meus medos, meus sonhos, sabe? Não fiz nada sozinha, tem um tanto de gente ao meu lado. Vieram diversas pessoas antes. Não estou inventando a roda, saca? Quantas vezes eu postei em minha timeline “Onde Deus possa me Ouvir”, de Vander Lee, e tantas outras músicas em forma de desabafo e vocês me ignoraram? Por isso tive que escrever esta carta.
Hoje estou aqui escrevendo para Entre Todas as Coisa. Vocês podem até me perguntar o porquê. É muito simples: é um exercício da minha subjetividade. Não posso deixar que em nome da coletividade, eu Monique Evelle, deixe de existir.
Infelizmente o mundo não some quando fechamos os olhos. Mas estarei aqui quando vocês quiserem me chamar para tomar uma breja!