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Sociedades

Inovação política para combater desigualdades e fortalecer a democracia

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Por Beatriz Pedreira, Larissa Dionisio e Jonaya de Castro*

 

Vivemos uma tensão transformadora em todo mundo neste século. Enquanto a política institucional sucumbe à diferentes crises, vemos florescer nas bordas da sociedade uma série de práticas emergentes de política, que visam aproximar o cidadão do poder público, desenhar novas instituições, resgatar a confiança e conectar pessoas e ações transformadoras. 

Na América Latina, nossas democracias são ainda jovens, frágeis, desatualizadas e desiguais, resultado de suas formações e heranças históricas. Assim, as crises de institucionalidade, representatividade e referências que se evidenciam em todo o mundo têm particularidades na região. E é com esse pano de fundo que observamos o desenvolvimento de um ecossistema de novos atores e práticas políticas emergentes.

Nossa primeira investigação neste universo aconteceu em 2016, quando mapeamos mais de 700 iniciativas de inovação política, em 21 países latinos. O levantamento Emergência Política Tendências é o mais abrangente já realizado sobre esse tema na região. 

As iniciativas tratam de pautas como despolarização da sociedade, transparência, fiscalização das ações de parlamentares e governantes, além do surgimento de novos partidos que nasceram de movimentos sociais. Todos são temas que instigam a participação da sociedade, pois ampliam a confiança, valorizam a diversidade de ideias e tornam a prática política mais amigável e humana. São cidadãos, ativistas, empresários e políticos que desenvolvem soluções para os desafios citados anteriormente.

Nosso segundo passo foi viajar, em 2017, para 11 dos 21 países mapeados – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru e Uruguai – e conversar com mais de 250 lideranças, de governos ao ativismo informal, para aprofundar o que tínhamos observado. Assim nasceu a pesquisa Emergência Política América Latina, um retrato de um novo imaginário político latino-americano para o século 21.

https://www.youtube.com/watch?v=A5lPX2kYYjs

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Foram mais de 22 mil minutos de entrevistas com 250 lideranças sobre temas como “participação cidadã”, “governo 2.0”, “transparência”, “controle social”, “cultura política” e “comunicação independente”.

O relatório da pesquisa apresenta o contexto histórico da região que levou ao atual cenário de fragilidade democrática. E introduz um conceito-chave para entendermos esse processo: a “desimaginação política”, que é o ato de retirar o direito dos indivíduos de criarem novas realidades.

A partir da nossa pesquisa, concluimos que a manutenção da desimaginação política é sustentada por dois grandes pilares Autoritarismo e Desigualdade Social interligados e enraizados profundamente na nossa sociedade. 

Desta lógica resulta um comportamento de apatia, que nega a política como meio de viver em sociedade e inviabiliza um projeto comum. Daí nascem velhos conhecidos nossos, como a “baixa cultura política”, “falta de confiança nas instituições”, “resistência a novos atores” e “polarização da sociedade”. 

A partir disso, mostramos como uma combinação de dois fatos históricos criou condições para o resgate do imaginário político latino-americano. Primeiro, o período de redemocratização, nos anos 80 e 90, após décadas de ditadura. Depois, o surgimento da internet. Como resultado, há o fenômeno de tomada das ruas a partir de 2010, que alcança grandes proporções e cria novas possibilidades de atuação política, tais como: a “Primavera Chilena”, em 2011; o movimento estudantil “Yo Soy 132”, no México, em 2012; e as “Jornadas de Junho” do Brasil, em 2013.

À esta nova identidade política que surge demos o nome de tecedores e tecedoras. São pessoas que tecem os fragmentos das diversas identidades presentes na sociedade latino-americana, criando pontes, conectando realidades e mediando relações a partir de uma visão: a construção de uma coletividade própria da América Latina. 

Dos tecedores e das tecedoras é que nasce a inovação política, que são as práticas políticas emergentes que aproximam cidadãos da política para reduzir desigualdades e fortalecer a democracia. Para isso, utilizam das seguintes estratégias: internet como ferramenta; conteúdo independente; corresponsabilidade; criatividade; ocupação de espaços; diálogo empático e redes de colaboração. É a partir dessas estratégias que nosso estudo apresenta as centenas de iniciativas mapeadas na região, que estão disponível no site da pesquisa. 

Inovações a partir das periferias

Na terceira fase da nossa série de pesquisas nos dedicamos a investigar iniciativas que diminuem as desigualdade e fortalecem a democracia a partir das periferias brasileiras. Nasceu assim a pesquisa Emergência Política Periferias, um mapeamento de 400 projetos e ações de cinco regiões metropolitanas do país: Belo Horizonte, Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

No decorrer do estudo, temas críticos para a implementação de políticas públicas de redução das desigualdades e para o desenvolvimento sustentável das periferias urbanas foram abordados. São exemplos a representatividade política, redução das violências, uso de tecnologias, democracia, racismo estrutural, machismo na sociedade, acesso a direitos, disputa de narrativas e fake news, entre outros.

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Uma perspectiva marcante da pesquisa é a percepção não apenas da necessidade de transformação política do Estado, mas a relevância de fazê-lo conjuntamente com a população das periferias, uma vez que os governos, de forma geral, desconhecem ou desvalorizam a profundidade dos problemas vividos nestes territórios.

Realizado por pesquisadoras e pesquisadores que atuam nas próprias regiões mapeadas, a iniciativa se divide entre as pautas de “participação política”, “redes de colaboração”, “movimentos sociais e culturais”, “meio ambiente”, “empreendedorismo social” e “mídia independente e alternativa”. São realizadas por ONGs, coletivos informais, indivíduos ou ações que de alguma forma estão ligadas à política institucional. E emergem a partir de cinco principais estímulos: a dor, o mentor, coletivos de cultura, ONGS e políticas sociais.

Captura de Tela 2019-06-29 às 13.37.12Uma das principais características que observamos nesse movimento é que a escuta permanente, o diálogo e o fazer com as comunidades são princípios que geram um conjunto de experiências e de conhecimentos determinantes para o exercício da cidadania e estimulam as forças locais para uma atuação mais democrática. 

A partir da gestão das urgências, do direito à existência, memória, ancestralidade, cultura, economia, bem viver, participação e ocupação do poder, essas iniciativas revelam a emergência de práticas que transformam os territórios periféricos em laboratórios de soluções para os problemas do país. 

E mostram uma inovação importante: as periferias estão se movendo para estar em espaços de poder, de tomada de decisão, para fazer política a partir dos problemas reais e que, por vezes, foram sistematicamente silenciadas pelo Estado. O fato é que se as instituições olhassem para as soluções propostas por essas iniciativas, as políticas públicas teriam muito mais impacto e seriam mais efetivas. 

Mulheres na Política

Atualmente estamos produzindo uma nova pesquisa, a Emergência Política Mulheres, um projeto sobre mulheres e inovação política. 

Como parte da nossa missão de fomentar a inovação política na América Latina, vamos viajar por seis países para conversar com mulheres em cargos eletivos (Legislativo e Executivo), de diferentes campos políticos, territórios e diversidade étnico e racial, para investigar quais são as práticas, as agendas, os desafios e as potências da liderança feminina. E compreender como as mulheres estão atualizando a democracia do século 21.

Já visitamos os dois primeiros países – México e Colômbia -, onde encontramos movimentos muito interessantes. No México, acompanhamos um momento histórico, a aprovação de uma reforma constitucional que instituiu a paridade de gênero em todos os cargos públicos e instâncias de poder. Na Colômbia, conhecemos uma iniciativa de mulheres que estão se lançando na corrida eleitoral deste ano de forma muito inovadora, com uma lista de candidatas diversas, vindas de diferentes movimentos da sociedades civil e centrada num processo de círculos de confiança.

Com essa pesquisa, queremos dar luz a esse novo fazer político com o objetivo de criar novas referências, impulsionar mais mulheres a se candidatarem e estimular um novo imaginário de poder em que a política também deve ser exercida pelo viés feminino.

*Beatriz Pedreira, Larissa Dionisio e Jonaya de Castro são pesquisadoras do Instituto Update, organização da sociedade civil que fomenta a inovação política na América Latina com o objetivo de fortalecer a democracia na região. Saiba mais em: www.institutoupdate.org.br.

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As pesquisas Emergência Política América Latina e Emergência Política Periferias deram origem também a duas temporadas de uma série em parceria com a produtora Maria Farinha Filmes e Globonews. A primeira temporada Política: modo de usar, foi exibida em novembro de 2017. A segunda, Política: modo de fazer, em setembro de 2018. As duas temporadas estão disponíveis na plataforma digital VIDEOCAMP. 

 

 

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